Notas sobre e gestão de Juca Ferreira e a sucessão no MinC

Nem ufanismo bajulatório, nem moralismo condenatório. A gestão de Juca teve muitos méritos e avanços significativos no que se refere a democratização da cultura e do conhecimento. Mas o MinC tem um problema estrutural que é seu fraco peso político frente a outros setores. Exemplo disso é que esta gestão tocou em feridas escondidas, a exemplo da Reforma da Lei de Direito Autoral, que após ampla participação popular, recebeu fortes ataques dos elefantes brancos do direito autoral (ECAD, CNCDA, ABDR, ABRAMUS, ABPD, APCM, etc), não tendo força para lavá-la adiante. A nova ministra (ligada à indústria fonográfica), que já se disse contra a fiscalização do ECAD, já representa uma forte reação (conservadora) aos rumos abertos nos últimos 8 anos. Esperamos que a nova ministra coloque as necessidades sociais de um país continental e desigual como este a frente de suas posições e preferências pessoais.

 

Reproduzo abaixo o texto “O papel de Juca Ferreira no MinC” de Carlos Henrique Machado, publicado no portal Luis Nassif, onde faz uma breve síntese desta gestão:

 

A saída de Juca Ferreira está sendo comemorada pelos cult-capitalistas que estão tripudiando sua saída a serviço do poder do mercado corporativo de cultura. Isso traz a simbologia de uma lógica bastante objetiva sobre as realizações do segundo mandato do governo Lula, aonde teve Juca Ferreira à frente do Ministério da Cultura nos últimos dois anos num verdadeiro território de guerra. Neste período, o MinC buscou uma integração mais orgânica com a sociedade, sobretudo com as conferências espalhadas Brasil afora, o que assegura a permanência do movimento iniciado por Gil, porém, credito a Juca Ferreira o símbolo de uma luta global contra a força deformadora que agia territorializada para sustentar o privilégio de organizações pesadas e, de forma orquestrada, destituir a cultura como movimento social.

Na verdade, a questão é: não se pode pensar cultura com ingenuidade. Esse discurso universal difundido mediante ao uso de instrumentos de origem transnacional não é próprio da cultura brasileira. São típicas as criações de um sistema que tenta domesticar a cultura popular aonde se cria formas exóticas com novas técnicas para substituir a força que vem das ruas por alguma coisa palatável e modelada para servir aos grupos corporativos de cultura.

A Lei Rouanet criou uma verdadeira esquizofrenia no espaço cultural com sua racionalidade pragmática, fazendo da produção cultural uma coisa banal, residual. Na realidade, tudo na Lei Rouanet sempre se realizou em torno do dinheiro e numa série de outras ações alheias à cultura que acabavam sendo acionadas com uma verdadeira federação de recursos públicos. Juca Ferreira se colocou como um cidadão do país, valorizando, sobretudo o território, a sociedade e seu poder de constituir uma perspectiva de cidadania integral e que, para tanto deveria enfrentar de maneira incondicional o território do dinheiro normativo e globalizado ao qual a produção de arte brasileira estava subordinada.

É essa guerra invisível contra a sociedade brasileira que Juca enfrentou, além de se cercar de um grupo extremamente competente e de espírito republicano. Juca Ferreira conduziu o Ministério da Cultura com uma mensagem de enriquecimento da cultura do povo brasileiro.

Temos que lembrar que as coisas como estavam, dominadas por institutos, fundações e associações de captadores de recursos da Lei Rouanet, o Estado brasileiro se tornou incapaz de regular a vida coletiva da cultura.

Eu interpreto a administração de Juca e seu secretariado como ideológica, sobretudo no apoio às manifestações populares protagonizadas pelas camadas mais pobres da população. E isso foi mais do que a semente de uma evolução, precisamos enxergar isso. O discurso de Juca ferreira e seu secretariado realçava com clareza que, além de combater o pequeno, mas poderoso grupo que fez da Lei Rouanet benefício exclusivo, fortaleceu os pilares de uma democracia cultural que vai muito além do limite de um discurso.

Por isso, parabenizo o Ministério da Cultura de Juca Ferreira que permitiu que fosse tecida uma linguagem econômica dentro do setor cultural distante da fábula neoliberal criada pela gestão corporativa para centrifugar os recursos da cultura via Lei Rouanet.

 

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Uma resposta para Notas sobre e gestão de Juca Ferreira e a sucessão no MinC

  1. Olá Arakin Monteiro

    Vi o seu comentário no blog do Nassif com o link do meu texto e aproveitei para ler suas observações aqui no blog, que achei ótimas. Imagino que, pelo andar da carruagem, vamos precisar de unir muitas forças, ideias para combater, ao que tudo leva a crer, um grande retrocesso. Mas ali naquele mesmo post que o Nassif destacou foi revelado que talvez o jogo seja ainda mais pesado do que imaginamos. Segue abaixo um comentário agressivo de um fake que assinou com o nome de Antonio da Boa Morte e, no final, Tonho.

    “Antonio da Boa Morte O estrebuchar dos aflitos.

    O autor do texto acima não esconde, nem poderia, que a ação do que ele chama secretariado de Juca foi ideológica. Mas onde se sentiu mais diretamente essa ação? Contra o processo de industrialização do Brasil do período Lula. Não é prudente estar aqui desenterrando projetos como aquele que obrigava o uso de farinha de mandioca na produção de pizzas, que ficou próximo do ridículo. O que é grave é tributar a Ministra que vai assumir (e poderia ser um outro, por que não?), uma vitória dos cult-capitalistas. Pois é, o signatários, e com toda certeza a maioria do secretariado que ele tanto venera, parece não ver que grande parte da população brasileira entrou para o mercado de consumo e que isso significa consumir arte e cultura como produto industrial, com a sofisticação que a situação promete.

    De resto é chutar cachorro morto. Aposta minha bengala como o autor faz parte da equipe que neste momento arruma as gavetas e vai cantar noutra freguesia. Lamentável que não tenhamos uma discussão acumulada sobre o papel da Arte e da Cultura na formação do cidadão moderno brasileiro.

    Adeus companheiros.
    Meu nome é Tonho”

    Como você pode ver, o amigo Tonho pesou a mão nos ataques, e isso levantou uma lebre, então, decidi investigar quem era esta pessoa e o porquê de tanta agressividade. Pois bem, não é que tive esta surpresa que segue no link abaixo!

    http://luisnassif.com/forum/topics/porque-ana-de-holanda-sim-e?commentId=2189391%3AComment%3A488815

    Como você pode observar no conteúdo do link acima, parece ser missa encomendada ao estilo da virulência serrista.

    Como escrevo no Cultura e Mercado que tem um perfil oposto ao meu, recebo muitos ataques do tucanato paulista, bem afinado com esta figura chamada Tonho. Segue abaixo o link do meu mais recente artigo aonde critico os novos “mestres” da gestão corporativa.

    http://www.culturaemercado.com.br/pontos-de-vista/o-conselho-do-mestre/

    Um grande abraço e vamos seguir lutando.

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